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A Fundação Cultural de Uberaba abre no próximo dia 8 uma exposição sobre a vida de Gildo Macedo Lacerda. A exposição será aberta no dia que o estudante completaria 66 anos de idade. Ele foi morto pelo regime militar em outubro de 1973.
A exposição, que acontece na Casa de Cultura/Fundação Cultural, traz fotos e documentos e outros objetos do homenageado.
Gildo Macedo nasceu em Ituiutaba no dia 8 de julho de 1949, filho de Célia Garcia Macedo Lacerda e Agostinho Nunes Lacerda. Em 1963 sua família muda-se para Uberaba e Gildo vai para o Colégio Triângulo. Em 1965 transfere-se para o Colégio Cenecista José Ferreira e funda o Grêmio Estudantil Machado de Assis.
Desde cedo teve forte apelo para as artes. Entre 1965 e 1966 foi sócio ativo do Núcleo Artístico de Teatro Amador. Participou de um programa radiofônico, fez teatro, escrevia cartas em francês e suas preferências culturais iam da música de Tom Jobim às poesias de Pablo Neruda. Mas apesar da preferência, Gildo não seguiu o caminho das artes. Em 1966 foi orador oficial da União Estudantil Uberabense (UEU) e do Partido Unificador Estudantil (PUE).
Em 1967 Gildo muda-se para Belo Horizonte, onde termina o Ensino Médio. Na época já era ativista da Ação Popular. Atuou como membro ativo e diretor do Circulo de Estudos da União da Mocidade Espírita, do Departamento de Evangelização da Criança, do programa radiofônico Hora Espírita Cristã e orador da Mocidade Espírita Batuíra.
Em 1968 passou no curso de Economia na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e participa do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna/SP, onde foi preso. Em 1969 foi eleito vice-presidente da União Nacional dos Estudantes. Porém, sua graduação durou pouco. Devido à intensa militância, foi excluído da universidade com base no Decreto-Lei 477, editado em fevereiro de 1969, pelo General Costa e Silva.
Mudou-se para São Paulo onde continuou nas atividades da Ação Popular, na clandestinidade. Em seguida para o Rio de Janeiro. As perseguições tornaram-se mais intensas, por isso era preciso fugir frequentemente.
Mas não apenas de lutas fora dedicada sua vida, havia amor também. Em 1972, casou-se com Mariluce Moura com quem teria a filha Tessa Macedo Lacerda, que ele sequer conheceu e cuja paternidade só pode ser reconhecida após 15 anos de sua morte.
Gildo e sua esposa Marluce foram presos em 22 de outubro de 1973, em Recife, e seis dias depois, em 28 de outubro, foi morto, baleado, sob tortura. Sua morte foi “transmitida” em 31 de outubro, em nota oficial, onde a polícia informa a morte de José Carlos e Gildo Lacerda num tiroteio em Recife. A nota dizia que os dois confessaram durante o interrogatório que teriam um encontro no dia 28 com um companheiro de codinome "Antônio". Levados para o local, "Antônio" teria pressentido algo anormal e abriu fogo contra seus companheiros. Essa foi a versão oficial da morte de Gildo. Esses "tiroteios" era uma das formas mais usadas pela repressão para justificar a morte de algum preso político. Os militantes da AP, ao ouvirem a versão do Governo, imediatamente perceberam a farsa.
Por ser dirigente nacional da AP, seus algozes o torturaram tentando arrancar dele todas as informações possíveis. Como Gildo nada dizia, foi brutalmente assassinado no dia 28. Os restos mortais de Gildo nunca foram devolvidos à família. Primeiramente, o corpo foi para a vala comum no Buraco do Inferno. Em 1986, foi transferido para outra vala comum, no Cemitério Parque das Flores e depois sumiu.
Há 42 anos Marluce não tem notícias do marido. “Estava esperando um ônibus na parte baixa do Elevador Lacerda, por volta do meio dia, no centro de Salvador quando cinco homens se aproximaram, me encapuzaram e me enfiaram num carro. Até onde eu sei, na mesma hora, o Gildo estava saindo de casa na avenida Luiz Tarquínio e foi da mesma forma e mais ou menos no mesmo horário”, conta Mariluce Moura em depoimento prestado na 6ª Audiência Pública da Comissão Nacional da Verdade, realizada no dia 22 de outubro de 2012 no auditório da Reitoria da UFMG.
Até hoje, a família luta por explicações. O corpo de Gildo nunca fora entregue aos familiares, um silêncio que inquieta àqueles que passaram e conviveram com os horrores dessa época, como é o caso de Mariluce. “Tem a angústia de você não ter feito os ritos de passagem, não enterrou, não cremou. Você não despediu, não há uma despedida.”
Para relembrar a vida de Gildo Lacerda, a Fundação Cultural organiza a exposição, contando com documentação emprestada pela família do estudante e militante político. Um painel irá contar a linha do tempo de Gildo. A exposição sobre a vida de Gildo Macedo Lacerda será na Casa da Cultura – Fundação Cultural, com abertura no dia 8 às 19h30 e visitação de 8 de julho a 8 de agosto, das 8h às 18h.
A filha de Gildo, Tessa, já confirmou presença no evento, bem como de toda sua família que mora em Uberaba.
Maria das Graças Salvador
Comunicação PMU/FCU 01.07.2015
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